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Livro "Detrás da Sombra" Em Ebook

domingo, 26 de abril de 2009

.Parte de ti

Procura-me debaixo das nuvens que choram a distância,
No canto das ondas que lavam a tua recordação.
Procura-me nas palavras não ditas que ouviste,
No resmungo miúdo da madeira que o fogo consome.

Procura-me nas cortinas que te afastam do real,
No espelho quebrado que justifica o teu pesar.
Procura-me nas superstições malditas que tens,
Procura-me por magia, mas aí não me acharás.

Procura-me pelo rasto de pedras que deixei,
Por detrás dos muros que nos separaram dantes.
Procura-me nos rostos magoados dos transeuntes,
Nos pratos corroídos de onde ninguém come.

Procura-me na música desafinada que escutas,
Procura-me no sopro e nas teclas, até na voz;
Procura-me na sombra de objectos que não vês,
Procura-me na calçada, mas aí não me acharás.

Procura-me até te cansares de me procurar,
Pois em lugar nenhum eu me encontro.
No confronto entre a verdade e o querer,
Hás-de saber que é em ti que me vais achar.

(Poema contido na obra Detrás da Sombra)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

.Paredes

Paredes cheias
Da minha vida e da tua.
Paredes feitas de rua,
Minhas sem me pertencer.

Paredes ocas,
Sem o teu peso, minha altura;
Paredes de fina amargura,
Que me prendem sem me conter.

Paredes vãs,
De sua cor descoroadas.
Paredes por mim amadas,
Por te reflectirem sem te ver.

Paredes de vidro,
Que me aquecerão se te perder.

(Poema contido na obra Detrás da Sombra)

.Segredos da Noite - Parte II

Noites que não dormem,
Dúvidas que não morrem
E a ansiedade crescente
Por um amanhecer que se distancia
E com ele te arrasta
No seu vagar sabático...
No seu esperar errático.

Temores que não falam,
Segredos que não calam.
E o canto sibilado,
Por entre as silvas do campo,
De um vento que te avilta
Com o seu sopro dramático
Sobre o teu corpo estático.

Marés negras de aflição;
A ti pertence a solidão
E a mágoa dissimulada,
Apesar da alva que não tarda,
Pela chama da tua voz,
No seu furor enfático,
Pelo seu fado catártico.

Amor desabrochando em flor,
Espinhosa como a tua dor.
Insuficiente para deter
A incerteza do teu olhar
Que vagueia na noite e se perde
No negrume anárquico...
No teu meditar selvático.

(Poema contido na obra Detrás da Sombra)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

.Maré

Olímpica maré,
Inunda a fonte do teu degredo,
Inibe a luz do teu medo,
Também meu em segredo;

Erode a terra que te sugou,
Comanda a Lua que te humilhou,
Mesmo quando se apagou;

Rasga o esboço do Iluminador,
Ondula nos escombros do furor,
Do teu insensível despudor;

Afunda aqueles que te pisam,
Destrói os ventos que te assobiam,
As fronteiras que te limitam;

Esquece o solo, pois és mar;
Entre Zeus e Deus, és ímpar,
Maré luzente ao luar;

De poderosa força é o teu mal,
O teu inquieto brilho é fatal;
Serás tu, maré, real?

(Poema contido na obra Detrás da Sombra)

sábado, 11 de abril de 2009

.Corredor da Morte

Andava pela estrada, passos sincopados e fúnebres. O silêncio enfurecido desenhava-lhe rugas nos lábios cerrados. Continha a custo o grito que lhe ressoava na mente, mas ter como única resposta o eco repetitivo da sua voz doía-lhe mais do que olhar em volta e descobrir a vastidão do vazio que sentia. Ninguém diante de si, ninguém ao seu lado ou atrás, pedindo-lhe para recuar, para esquecer a mágoa acesa que lhe sussurrava blasfémias. Apenas ela e a estrada, apenas o negro do alcatrão e o vermelho da sua camisa ensanguentada, com pingos de culpa manchando-lhe a consciência e as mãos que no passado controlava. E o silêncio… Não se atreveu a quebrá-lo.

(Poema contido na obra Detrás da Sombra)

domingo, 5 de abril de 2009

.Descontrolo

Adormecidos sentidos
Pecados cometidos
Murmúrios inconscientes
Memórias dormentes

Sorrisos vazios
Abafados desvios
Consciências ausentes
Sombras crescentes

Razões dispersas
Acções adversas
Segredos em ilusão
Lágrimas sem coração

Adormecidos sentidos
Pecados esquecidos
Confissões pendentes
Mágoas suplentes

(Poema contido na obra Detrás da Sombra)