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Livro "Detrás da Sombra" Em Ebook

terça-feira, 15 de junho de 2010

.Buraco Negro

É com o chorar da flauta maior
Que as imagens dançam em meu redor,
Trazendo os crimes da guerra até mim,
A fome severa que jamais senti
No buraco negro a que chamam paz.

A misericórdia transtornada, feroz,
Os cânticos militares a uma voz,
Emudecendo o chilrear da pomba,
Para só se escutar o explodir da bomba
No buraco negro a que chamam paz.

O sangue jorra de corpos inocentes,
Fugindo do leito aviltado por doentes,
Sangrando desde o pouso da consciência
De tudo ter perdido sem nada ter na essência
Excepto no buraco negro a que chamam paz.

As mortalhas repousam na armadura,
Onde o ódio representa, mas o medo figura,
Aguardando o despertar da fúria do soldado,
O rolar de uma cabeça no sentido errado
Para lá do buraco negro com que ofendem a paz.

Por isso a noite é negra, a noite é nua e a verdade nula!
Por isso as crianças gritam sem que se saiba o porquê!
Por isso o Sol cai no horizonte e se esconde da escuridão!
Por isso o buraco negro se aprofunda e segrega corrupção!

As lágrimas secam nas profundezas da visão,
Onde se descodificam as impurezas do mundo,
Se pintam de sofrimento as armas de hoje,
Se vestem de luto as revelações vindas de longe,
No buraco negro a que erroneamente chamam paz.

Apenas a mentira se ramifica no negrume,
Apenas a desgraça se anuncia e atinge o cume
Dos montes construídos pela hipocrisia
Que grassa violentamente de dia para dia
Nos que habitam o buraco negro a que chamam paz.

Por isso é uma bênção a ignorância e o desconhecimento!
Por isso o céu azul inevitavelmente se veste de cinzento!
Por isso a razão se confunde com a rebelião viciosa!
Por isso o real é um berçário para a mágoa raivosa!

E no fundo… Nada mais é senão um buraco.

(Poema escrito a 3/10/2009 e contido na Antologia World Art Friends 2009, lançada dois meses depois.)