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Livro "Detrás da Sombra" Em Ebook

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Encontro/Desencontro

“Enquanto corres lá para o longe que se faz perto...

Onde estás?

Enquanto resistes à atracção deste encontro incerto...

Onde estás?
Eu estou aqui.

(Inspira)

Eu estou aqui.

Enquanto procuras pela outra face da Lua...

Eu estou aqui.

(Expira)

Eu estou aqui;
E nós somos uma só face, um só corpo,
Um só movimento.

(Liberta a tensão)

Aceita o que é.
Entrega-te ao meu toque.

Deixa-me tocar-te para te ver.

Toca-me para me veres.

(Flui)

Deixa-me dançar nos teus contornos.

Sente no meu o teu movimento;
Faz dos meus os teus passos.

(Alonga)

Avança e eu avançarei;
Corre, rola e eu seguir-te-ei.

Ampara os meus saltos no teu abraço,
Faz da tua força o meu laço.

(Sente...)

Salta comigo pela nossa liberdade.

(...a Verticalidade)

Estendamo-nos no pleno plano da nossa vontade,
Como balas de dois dedos-pistola rumo à felicidade...

(Sente...)

Como dois sonhos feitos uma só realidade...
Assim somos nós, unidos neste encontro.

(...a Horizontalidade)

Assim é a atracção do desencontro.
Luta, mas cede...

(Flui)

Procura-me sem parar.
Faz do meu o teu lugar.

...Pois eu estou aqui.

(Expira)

Eu estou aqui.

(Inspira)

No intervalo dos teus passos.

No silêncio das tuas pausas.

(Respira)
Nós estamos aqui.
Juntos. Frágeis.

Respira. A dança acabou.”



terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ode Musical

"A mim chega o tamborilar dos martelos,
Ecos em paredes que cantam para mim,
O rufar de um chão avassalado por multidões,
Por multidões que vibram cordas do meu sentir.

Anseio o frenético tocar das campainhas;
Visitem-me e rebentem-me, flautas e sinos!
Rebentem os meus tímpanos com o troar das pandeiretas,
E ruffestumpumpampim, façam-me ouvir, façam-me sentir!

Ó sinfonias, Beethoven e Mozart! Ó divinas orquestras pagãs!
Violinos que estremecem o silêncio que eu não quero ouvir,
Não quero, não quero ouvir!
Os meus dedos sentem clarinetes na pena que desenha claves,
Claves de Sol e Dó e dor nas sílabas dum verso estridente.
Quero barulho, agitação, ruído, AH! contrabaixos e violões,
Afastem de mim os meus pensares, sons-barreira da razão
Que me dói, da realidade que só tem música na tragédia,
Nos beberrões que cantam dores,
Nos ecos de armas disparadas em vão,
No ressoar de bombas caídas e cânticos de vingança
E melódicos choros!

Silêncio, que se vai cantar o fado? Mas que me importa o fado?
Que me interessam destinos que não posso controlar
E saudades de vidas que não são minhas?
Para que quero as minhas reflexões
Se tenho a música para me preencher?

Venham a mim, sons estrangeiros!
Façam toc-toc na minha porta,
Imitem o plim-plim dos triângulos!
Inspirem o fôlego da gaita de foles;
Dispam-se das vossas vergonhas e venham-me alegrar!

Faremos a marcha nupcial e o funeral da quietude!
Adeus ao adagio, à languidez; que venha fogo, fúria e julgamento!
Que se libertem de mim as vozes cantantes do sofrimento
E que se calem os murmúrios do ventre sem alimento!
Acordeões e harpas – serão meus os dedos que vos dominam,
É minha a alma que vos quer audíveis e andantes!
É minha a dor que o silêncio salienta,
São os meus pensamentos num eterno derramar...
Porque para a paz, oh, a paz,
Eu sei que não há mais lugar."

(10-01-2011 - ai, escola...)