Procura-me debaixo das nuvens que choram a distância,
No canto das ondas que lavam a tua recordação.
Procura-me nas palavras não ditas que ouviste,
No resmungo miúdo da madeira que o fogo consome.
Procura-me nas cortinas que te afastam do real,
No espelho quebrado que justifica o teu pesar.
Procura-me nas superstições malditas que tens,
Procura-me por magia, mas aí não me acharás.
Procura-me pelo rasto de pedras que deixei,
Por detrás dos muros que nos separaram dantes.
Procura-me nos rostos magoados dos transeuntes,
Nos pratos corroídos de onde ninguém come.
Procura-me na música desafinada que escutas,
Procura-me no sopro e nas teclas, até na voz;
Procura-me na sombra de objectos que não vês,
Procura-me na calçada, mas aí não me acharás.
Procura-me até te cansares de me procurar,
Pois em lugar nenhum eu me encontro.
No confronto entre a verdade e o querer,
Hás-de saber que é em ti que me vais achar.
(Poema contido na obra Detrás da Sombra)
Há 15 horas